O meu baptismo foi no Rio Tua, no pico do inverno e das chuvas, com um barco insuflável da Decathlon, sem colete, com o meu colega em hipotermia, na transição da noite, fazendo parte do percurso nocturno sem lua e sem Deus, nem rede de telemóvel, onde só se ouvia o rugir de sabe-se-lá-o-quê, fazendo classes V, sem saber o que eram classes, guiando-me tal morcego no abismo da morte já mais que certa, tentando chegar ao fim, do que foi um pequeno infinito, para pedir um socorro hipotético, pois já tinha perdido camarada, que por sua vez perdeu o material todo, ficando com a alma e um pouco da vida, na descida onde usei uma técnica nunca antes testada, que foi o método do Barril, desci aquele rio como se fosse dentro dum barril, sem a mínima ideia para onde estava a ir nem como nem porquê, com 300 litros de água a bordo, um lastro maravilha, chegando ao fim, nem sei por que Santo, deve ter sido dia de apostas dos Deuses, correu bem, regresso com sapatos improvisados de sacos do Continente, marchando estoicamente pobre ouriços, catando castanhas nutritivas, para dois desafogueados que na descida para o rio foram sagazes, mas no regresso amaldiçoados pelas leis da física, garantido que o SUV do amigo ficasse encravado numa ravina, no pêndulo eminente do grande mergulho no Tua, como já era 4 da manhã, os cães nocturnos mais circundantes, percebemos que no amor muita sorte teríamos, pois tudo o resto parecia desmoronar e que já chegava de aventuras... Ainda no vórtice daquela noite, após negação de pedido de resgate por parte da seguradora, pois não contemplava situação de ESCORAGEM, passei ainda alguma da minha restante energia mental a convencer-lo que se atirássemos o carro pela ravina abaixo, tecnicamente o segura garantia segunda viatura e reposição por um novo veículo, sem mais espinhas, mas as castanhas foram-se esgotando, o cansaço dominando... e regressou-se ao Porto.
O dia seguinte, no resgate, dava uma outra história, mas não houve canoagem, por isso fraquito.
Assim começou uma paixão,
Agora tenho de regressar ao Tua para sublimar isto que ainda recordo como um sonho.
Ainda tenho de comer muito grão de bico e dar ao braço para lá voltar, mas volto!
Abraços.